Também fruticultores do Polo de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) sofrem porque os importadores norte-americanos estão suspendendo contratos
Tempos difíceis são os de hoje para quem, no Brasil, produz em todas as áreas da atividade econômica, principalmente as do agro e da indústria voltadas para a exportação para os Estados Unidos. A situação dos produtores e exportadores de frutas do Polo Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) dá a exata medida do problema: às vésperas do início da chamada “janela americana”, que vai de agosto a outubro, quando são embarcados – a maioria pelo Porto do Pecém — 3 mil contêineres de manga para o mercado norte-americano, paira a ameaça de que os importadores mandem suspender os embarques porque não estão dispostos a bancar o custo da exorbitante tarifa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump a todos os produtos exportados pelo Brasil para aquele país.
Devem ser acrescentadas a essa lista as mangas da Vicunha Agropecuária produzidas no Ceará, nos municípios de Quixeré e Beberibe, cuja exportação para os Estados Unidos também está suspensa.
Já tendo investido na compra de materiais de embalagem, já tendo reservado navios e fechado contratos com os compradores dos Estados Unidos, os fruticultores cearenses, baianos e pernambucanos estão, agora, quase desesperados diante da surpreendente e grave novidade.
Eles não podem da noite para o dia, como se poderia imaginar, desviar para o mercado europeu esse enorme carregamento de mangas. Não há tempo útil para essa alternativa. Uma viagem de Pecém para a costa Leste dos EUA dura uma semana. Faltam 13 dias para o início da cobrança da nova tarifa, e por causa disto as exportações de mel de abelha e de filé de tilápia produzidos no Nordeste já foram suspensas, com altos prejuízos para os produtores brasileiros. O que seria exportado será agora vendido no mercado interno, e o resultado será a queda do preço pelo excesso de oferta. Bom para a queda da inflação, péssimo para os produtores e exportadores.
Em números, o Brasil exporta em frutas, anualmente, para a Europa, EUA e Oriente Médio, o equivalente a US$ 1,2 bilhão. Deste total, vão para os EUA, aproximadamente, US$ 50 milhões em mangas, US$ 46 milhões em frutas processadas e US$ 41 milhões em uvas. O mercado norte-americano é importante para os brasileiros e não pode ser destruído por capricho pessoal ou por estratégia comercial ou política.
“Toda vez que você tem um caminho de uma água e barra aquela água, a água procura novos caminhos. Nós vamos ter que fazer a mesma coisa se permanecer isso, procurar novos parceiros”, diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas (Abrafrutas), o baiano Guilherme Coelho, para quem, se for mantida essa taxa imposta pelos EUA, “haverá uma catástrofe” na fruticultura brasileira, incluindo a nordestina. Procurar novos parceiros significa abrir e conquistar novos mercados, o que exige tempo e habilidade para a negociação.
O tempo vai passando e, até agora, não chegou dos Estados Unidos, mais especificamente da Casa Branca, sede do seu governo, um sinal de entendimento com o governo brasileiro. Isto é ruim.
É preciso ser lembrado que os EUA e o Brasil são governados por presidentes que adotam práticas populistas, e este é um problema que agrava o cenário do debate que deveria ser restrito à economia, mas extrapolou para a política desde o momento em que Donald Trump declarou-se, de forma oficial, por nota, contra o Judiciário brasileiro, que julga o seu amigo Jair Bolsonaro, acusado de liderar uma tentativa de golpe após o resultado da eleição presidencial de 2022, vencida por Lula. A PGR pediu ao STF pena de 43 anos de prisão para Bolsonaro
Além da fruticultura, o agro brasileiro tem negócios bilionários, em dólar, com os EUA. Porém, é a indústria que sofrerá mais, se mantida for a data de 1º de agosto para o início da vigência da nova tarifa.
Aviões da Embraer; placas de aço da siderúrgica do Pecém; café produzido no ES, em MG e em SP; petróleo bruto e seus derivados; ferro fundido; celulose; escavadores; pás mecânicas e compressores, entre outros, são os produtos que mais a indústria brasileira exporta para o mercado norte-americano. E essa exportação será inviabilizada se, quando agosto chegar, trouxer com ele a nova tarifa de Donald Trump