Bons resultados em sequência dão protagonismo para o meio rural no Estado
O milho sequeiro, o feijão de corda 1ª safra e o arroz irrigado são os grãos de maior produção no Estado
O crescimento de 6,67% do Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará no 3º trimestre de 2024, mais uma vez, foi puxado principalmente pelo setor agropecuário, que teve alta de 18,56%. Na contramão do segmento no País, que vem apresentando retração, o campo é destaque absoluto na economia cearense em 2024, e a tendência é de continuidade em 2025.
Segundo dados divulgados nessa segunda-feira (16) pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), órgão vinculado à Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag) do Governo do Estado, a agropecuária se manteve como o setor que mais cresce entre os três analisados para os resultados do PIB (agropecuária, indústria e serviços).
A alta de 18,56% acompanha outras duas elevações observadas ao longo dos trimestres de 2024. Em todos os períodos analisados, a agropecuária cearense teve destaque, com crescimentos bem acima da média nacional.
Na metodologia do PIB utilizada tanto pelo Ipece quanto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os cálculos consideram a análise dos trimestres de 2024 na comparação com igual período do ano passado.
PIB da Agropecuária: comparação Ceará e Brasil
Segmento teve as maiores altas percentuais no Estado em 2024, mas despencou em todos os trimestres no País
Trimestre de 20241º T
Variação no Cearáalta de 2,07%
Variação no Brasilqueda de 3%
Trimestre de 20242º T
Variação no Cearáalta de 32,52%
Variação no Brasilqueda de 2,9%
Trimestre de 20243º T
Variação no Cearáalta de 18,56%
Variação no Brasilqueda de 0,8%
“A economia do Ceará, como um todo, vai bem. Se produz, tem boa demanda, e volta para a base, onde se produz mais”, avalia Ana Cristina Lima, assessora técnica do Ipece para questões econômicas do setor agropecuário.
Para explicar o ótimo desempenho do agronegócio do Estado, é preciso entender como funciona o setor no Ceará e no Brasil. Por si, ambos têm diferenças que não se complementam.
Ceará não foca em produção de commodities
A assessora técnica do Ipece é categórica ao classificar que “o setor agropecuário cearense, comparado com o Brasil, não tem muita relação”. Isso porque a produção cearense foca em outros produtos do agronegócio que não sejam as principais mercadorias do campo comumente comercializadas com o exterior, no caso, as commodities.
O setor agropecuário brasileiro é muito voltado para grãos no Centro-Oeste, não temos foco na carne de corte. O que temos de grãos é aquele sequeiro, milho e feijão, tivemos uma temporada de chuva muito boa, e no terceiro trimestre temos o melhor trimestre para o setor agropecuário. Está terminando a colheita de grãos e começa a produção de frutas. Se a parte climática é favorável, tende o setor agropecuário a ir bem. Ana Cristina Lima
Assessora técnica do Ipece para questões econômicas do setor agropecuário
O Brasil, como um dos maiores produtores agropecuários do mundo, tem uma produção de commodities do agronegócio, sobretudo soja e carne bovina, muito comercializadas com o exterior. Com a disparada do dólar e a queda no preço desses produtos, a tendência é de uma redução no setor no País, o que ajuda a explicar as sucessivas quedas trimestrais ao longo de 2024.
“Não é que caiu a agropecuária, mas sim caiu o preço das commodities. Como no Brasil as exportações do agronegócio são ligadas em commodities, diminui o preço internacional, diminui gradativamente o valor, mas não a produção. O Ceará não está ligado às commodities. Mercado totalmente puro feito camarão, leite, frutas. Não foi baixa no mercado internacional em nenhum produto nosso. Por isso que seguramos e crescemos”, argumenta Amílcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec).
O Brasil é o maior produtor de soja do mundo, mas produção no Ceará ainda é pequena
Conforme Ana Cristina Lima, que faz parte da equipe que divulga os dados trimestrais do PIB do Ceará, os principais crescimentos no Estado entre julho e setembro deste ano ficaram no setor agrícola, com destaque para o coco-da-baía, cuja produção subiu 14,3% na comparação com o mesmo período de 2023
“Temos disponibilidade de água, é o terceiro ano que a gente já tem uma maior quantidade nos reservatórios. Isso garante já um planejamento por parte dos produtores que produzem lavouras irrigadas, ter a certeza que ele vai ter a outorga para ter o plantio dele autorizado”, pontua a especialista.
Carcinicultura, cocoicultura: agropecuária cearense potencializa os próprios destaques
O Ceará, segundo dados da Produção Agrícola Municipal de 2023 (PAM) e da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) do IBGE, é o estado líder na produção de diversos produtos do setor agropecuário, incluindo camarão, cera de carnaúba, castanha de caju e coco-da-baía. Outro item que vem tendo participações cada vez maiores no ranking nacional é o leite de vaca.
Camarão tinha 1.700 fazendas de criação em 2023, e neste ano já está com 2.056 fazendas. Existe um crescimento substancial pela demanda. Temos mais de 9 milhões de pessoas e existe uma demanda de alimentos. Exportações estão aumentando gradativamente, agora vai ter exportação. Se abrir o comércio mesmo do Mercosul com a União Europeia, vai ser uma felicidade porque tanto vamos poder mandar frutas em abundância, como também vamos poder mandar muito camarão. Amílcar Silveira
Presidente da Faec
A criação de camarão em cativeiro no Ceará cresceu tanto que já foi criada e opera sua primeira cooperativa, a Copacam.
Um dos destaques ressaltados por Ana Cristina Lima diz respeito ao setor de frutas e legumes. O milho cresceu quase 14% e a acerola 15%, mas o coco-da-baía, pelo alto beneficiamento industrial e a produção em larga escala, mantém a evidência. Para o futuro, o prognóstico é de uma pecuária leiteira ainda mais forte
“O leite vem crescendo há um bom tempo e é uma cadeia produtiva que está bem mais fortalecida no Ceará, com crescimento bem pujante. Nos últimos 20 anos, quem mais cresceu, na comparação com Bahia e Pernambuco, quem mais cresceu foi o Ceará na produção de leite. As indústrias de laticínios também trazem uma expectativa de crescimento com a produção de leite”, vislumbra.
Castanha de caju pode ser destaque nos meses finais do ano
Com uma produção de frutas fortalecida nos três últimos meses de 2024, a tendência é de que a agropecuária encerre o ano fortalecida no Ceará, puxada principalmente pela disparada na castanha de caju.
“A colheita da castanha de caju começa no 2º trimestre, mas já tem resultado. A expectativa do IBGE é de que a gente tenha uma produção de 40% maior na comparação com o ano passado. Não é uma commodity, mas a gente produz e exporta”, prospecta Ana Cristina Lima.
+ 40%
Essa é a expectativa do IBGE, segundo Ana Cristina Lima, de crescimento da produção de castanha de caju no Ceará em 2024 na comparação com 2023.
Legenda: Ceará foi o estado do Brasil que mais produziu castanha-de-caju em 2023, aponta IBGE
Para os próximos dois anos, Amílcar Silveira projeta que a agropecuária continue dando ênfase ao crescimento acelerado, e mesmo dependendo de questões climáticas, tenda a ter alta de 3% a 5% até 2026, com destaque para a cera da carnaúba, material que pode render para o setor cearense mais de meio bilhão de reais.
“Cera de carnaúba, minha expectativa é de que exporte mais, a minha expectativa é que exporte US$ 100 milhões. Se não exportar, é novidade para mim. Carcinicultura vai crescer bem e as frutas estão crescendo”, decreta