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AGRONEGÓCIO

Estufas expulsam moradores de Almeria; na Ibiapaba, elas já avançam

Os integrantes da Missão Tècnica e Empresarial da Faec/Senar/Abid visitam estufas do cultivo protegido em Almeria, na Andaluzia

Missão da Faec/Senar/Abid conhece os custos do cultivo protegido espanhol e fica muito satisfeito com os da região ibiapabana

Almeria (Espanha) — Parece um oceano branco ocupando uma área de cerca de 40 mil hectares, mas na verdade são estufas revestidas de plástico que protegem as culturas de hortaliças, como tomates e pimentões, e de frutas como o melão e a pitaya, todas de alto valor agregado que fazem da região de Andaluzia a grande produtora e fornecedora de hortifrutis da Europa. É um espetáculo tão impressionante que é visto e fotografado do céu pelos astronautas da Estação Espacial Internacional da Nasa

Mas este é só um detalhe desse fenômeno econômico, social, ecológico e tecnológico que se passa aqui no Sul espanhol. Mas há outro, de caráter urbanístico, digno de registro: as famosas estufas do cultivo protegido de Almeria estão agora, literalmente, expulsando os habitantes dos povoados do seu entorno. No lugar onde havia casas com gente morando nelas, o que há hoje são essas estufas, que avançam também sobre as montanhas que cercam esta província andaluz.

Corte para o Ceará. 

Na Serra da Ibiapaba, o cultivo protegido está só começando, mas já avança na velocidade do frevo. Onde havia terra improdutiva, hoje há estufas cobertas de plástico branco ou teladas, ou seja, que permitem a ventilação natural para reduzir a temperatura ambiente nos dias mais quentes (nas plastificadas, é necessário o uso de grandes ventiladores e exaustores, que levam para fora o ar quente). 

 A geografia ibiapabana é muito propícia para o cultivo protegido de hortifrutis e tanto é verdade que o governo do Estado celebrou, na semana passada, em Madri um Memorando de Entendimento com a empresa norte-americana Emcocal, especializada no desenvolvimento de mudas do grupo dos “berries” — mirtilo, framboesa, amora preta e morangos. 

No início do próximo ano, a população da Ibiapaba verá a chegada dos especialistas da Emcocal que cultivarão essas frutas em áreas demonstrativas daquela região. O processo cearense de aclimatação dos berries deverá demorar de 8 a 12 meses, e começará com a implantação das mudas, que serão produzidas nos laboratórios da empresa na Florida, nos Estados Unidos, e transportadas via aérea até o Ceará. 

Uma vez prontas – informa Sílvio Carlos Ribeiro, secretário Executivo do Agronegócio da SDE – essas mudas serão transferidas para o campo de demonstração — que será localizado em município a ser ainda definido. Após 12 meses de cultivo, será colhida a primeira safra. Ela definirá as variedades testadas que apresentarem os melhores resultados em campo, as quais serão as indicadas para os empresários interessados em investir nessa rentável cultura. Uma curiosidade: o mirtilo é a única fruta de cor azul existente no planeta, daí seu nome blueberrie.

Corte para a região de Andaluzia. 

Ontem, segunda-feira, 6, os 35 integrantes da Missão Técnica e Empresarial da Faec/Senar/Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (Abid) passaram o dia nas estufas da Estação Experimental Cajamar, em Almeria, onde viram como se desenvolvem as pesquisas – encomendadas por empresas privadas – em torno de várias culturas.  

Recebido pela professora doutora Maria Dolorez Fernandez, todo o grupo visitante demonstrou alto interesse em não só ouvir as exposições que ela e outros especialistas fizeram, mas também em formular perguntas aos pesquisadores. 

Uma dessas perguntas foi a respeito do custo de implantação de um hectare de estufa com manejo de climatização. Ela respondeu: 

“Entre 800 mil euros e 1 milhão de euros, mas este investimento só se justifica com hortaliça de alto valor agregado, cuja colheita deve coincidir com uma janela de mercado muito cara, normalmente nos períodos nevados do inverno europeu.” 

Para os cearenses, essa alternativa é inviável economicamente, restando a boa e barata opção das estufas utilizadas na Chapada da Ibiapaba. Para Inácio Parente, vice-presidente da Federação da Agricultura do Ceará e presidente do Sindicato Rural de Ubajara, o cultivo protegido na sua região tem custos razoáveis, tem muito boa qualidade e atende à demanda consumidora regional e nacional.  

Por sua vez, o produtor Chico Baltazar, com fazenda de produção na geografia de Limoeiro do Norte, transmitiu à coluna o seguinte comentário a respeito do viu e ouviu ontem:

“Eles (os produtores de Almeria) têm aqui um grande investimento financeiro e tecnológico para desenvolver culturas tropicais em clima mediterrâneo. Com isso, concluo que nós, nordestinos do Brasil, estamos em um lugar perfeito para cuidar dessas culturas, com investimentos menores nas estruturas físicas, mas precisamos de investir em pesquisa e tecnologia. Outra necessidade que devemos perseguir é a de agregar valor ao que produzimos, e este é um dever que nós, os produtores do semiárido cearense, temos de assumir.  

“Os produtores de Almeria têm uma pluviometria que representa só um terço da nossa, com apenas 220 mm de média anual, e mesmo assim eles fazem um verdadeiro milagre, injetando na economia desta província algo em torno de 700 milhões de euros anuais. Estou saindo desta missão entendendo que temos no Ceará e no Nordeste brasileiro as melhores condições de pluviometria, de fertilidade do solo, de luz solar e de temperatura equilibrada, o que nos permite vislumbrar um futuro próximo de grandes avanços na agricultura de nossa região.” 

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