Casa de farinha na área rural de Salitre
Alimento ganha protagonismo gradualmente no território cearense e coloca o Estado entre os cinco maiores produtores nacionais
Na tríplice fronteira entre Ceará, Pernambuco e Piauí, está o município cearense que foi o maior produtor de mandioca do Nordeste em 2024 e o terceiro do Brasil. Salitre, chamada de “Capital da Mandioca“, viu a produção do alimento mais do que dobrar em um ano.
Em 2023, o município foi o 15º colocado nacional, produzindo pouco mais de 115 mil toneladas. Em 12 meses, a produção de Salitre disparou 108,62%. Agora, são 240,1 mil toneladas produzidas, o que coloca a cidade como a maior produtora de mandioca do Nordeste e a terceira do Brasil, atrás somente das cidades paraenses Acará e Baião.
Os dados foram divulgados na quinta-feira (11) na Produção Agrícola Municipal de 2024 (PAM), pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Desde 2022, Salitre ultrapassou Teotônio Vilela (AL) e se tornou a maior produtora do alimento do Nordeste.
A identificação com o cultivo é histórica e forte, ao ponto de o letreiro da entrada da cidade carregar o termo “Capital da Mandioca do Ceará“, bem como a designação fazer parte de uma lei estadual de 2018.
A produção de mandioca (também chamada de aipim ou macaxeira) traz ainda outro município cearense em destaque: Araripe. Vizinho a Salitre, o local é o segundo maior produtor cearense e o quarto do Nordeste do alimento, com 72,2 mil toneladas produzidas.
Estado também cresce na produção
O Pará, na região Norte, é de longe o maior produtor de mandioca do Brasil, com quase 4 milhões de toneladas produzidas em 2024, conforme a PAM. O Ceará, por sua vez, vem aos poucos crescendo no cenário nacional.
No ano passado, o território cearense ultrapassou a Bahia e passou a ser o maior produtor de mandioca do Nordeste, chegando às 817,8 mil toneladas, ocupando a quinta posição nacional. No comparativo com 2023, a produção cearense cresceu 12,3%.
Somente 10 dos 184 municípios cearenses, todos do interior, não produzem mandioca. A cada 10 quilogramas do alimento colhidas no Estado, três são de Salitre, o que evidencia a importância da cidade do extremo sudoeste cearense para a cadeia produtiva.
Confira o ranking dos dez municípios que mais produziram mandioca no Brasil em 2024:
Acará (PA)
- Produção (em toneladas): 406 mil t;
- Valor da produção (em R$): R$ 424,8 milhões;
- Posição no País: 1ª
Baião (PA)
- Produção (em toneladas): 374,7 mil t;
- Valor da produção (em R$): R$ 263 milhões;
- Posição no País: 2ª
Salitre (CE)
- Produção (em toneladas): 241 mil t;
- Valor da produção (em R$): R$ 107,9 milhões;
- Posição no País: 3ª
Alenquer (PA)
- Produção (em toneladas): 220 mil t;
- Valor da produção (em R$): R$ 396 milhões;
- Posição no País: 4ª
Umuarama (PR)
- Produção (em toneladas): 215,1 mil t;
- Valor da produção (em R$): R$ 112,3 milhões;
- Posição no País: 5ª
Portel (PA)
- Produção (em toneladas): 177,5 mil t;
- Valor da produção (em R$): R$ 106,5 milhões;
- Posição no País:
- Porto Velho (RO)
- Produção (em toneladas): 170 mil t;
- Valor da produção (em R$): R$ 332,3 milhões;
- Posição no País: 7ª
- Cruzeiro do Oeste (PR)
- Produção (em toneladas): 149 mil t;
- Valor da produção (em R$): R$ 74,8 milhões;
- Posição no País: 8ª
- Itaquiraí (MS)
- Produção (em toneladas): 146,2 mil t;
- Valor da produção (em R$): R$ 78,5 milhões;
- Posição no País: 9ª
- São Domingos do Capim (PA)
- Produção (em toneladas): 144 mil t;
- Valor da produção (em R$): R$ 142,8 milhões;
- Posição no País: 10ª
- Legenda: Macaxeira, Mandioca ou Aipim: Salitre é o principal município produtor da raiz do Nordeste em 2024
Área colhida no Ceará sobe 74% em um ano, afirma especialista
A coordenadora da seção de Pesquisas Agropecuários do IBGE Ceará, Regina Dias, elenca algumas razões que fizeram a produção de Salitre mais do que dobrar em um ano. Uma delas é o aumento de 11,5 mil ha para mais de 20 mil ha na área colhida do alimento - “Houve também crescimento no número de produtores, que compraram áreas para produção de mandioca, estimulados pelo elevado preço obtido em 2023 e pelos incentivos governamentais. (…) Essas ações, existentes há alguns anos, vêm obtendo resultado, proporcionando elevação no rendimento, com crescimento de 20,1%. Os produtores têm melhorado o preparo do solo, realizando correção da acidez e recuperando a fertilidade do solo, bem como aprimorando tratos culturais”, explica.
Outro ponto ressaltado pela especialista é de que, ainda que no levantamento da PAM conste apenas o produto da raiz da mandioca, criadores pecuários estão utilizando as outras partes da planta para a alimentação de animais.
“Vem crescendo a utilização, sendo a parte área (haste e folhagem) e a raiz fresca e processada (raspa da mandioca) servidos como complementação alimentar de bovinos e de animais de pequeno porte, o que também fortalece e estimula o cultivo”, pondera Regina Dias